quarta-feira, 15 de setembro de 2010

PEQUENO MORTO "AQUILO SERÁ MORRER?"


Trecho do livro "Mensagem do Pequeno Morto" (Edição da FEB, 88 págs.), lançado por Chico Xavier, em 1946, em psicografia do espírito Neio Lúcio. A obra é uma referência na literatura infanto-juvenil espírita e conta a história de Carlos, um rapaz que faleceu aos 14 anos de idade, e que envia ao irmão de nome Dirceu uma carta contando sobre sua nova condição de vida.

* * *

"Que significava aquela afirmação? Rente a mim, conservava-se tia Eunice, viva e bem disposta. Não conseguiria manter qualquer dúvida. Não me encontrava mais envolvido na alucinação ou no sonho. Minha consciência estava lúcida. Intrigava-me, contudo, variadas questões, atormentando-me o raciocínio. Sabia que tuia Eunice já havia morrido desde e muito. E eu? Não me encontrava ali, num quadro natural? Tocava meu próprio corpo, observava paredes e móveis. “Aquilo” seria morrer?

Bastou que eu formulasse tais pensamentos para que ela me sorrisse, bondosa, acrescentando:

- Sim Carlinhos, você permanece agora entre nós, os que já passamos pela sombra do túmulo.

Francamente, senti arrepios de medo, ,as Tia Eunice, longe de magoar-se, observou:
- Tolinho! Por que se acovardar? Não tema.

Tanta serenidade infundiu-me confiança. Contudo, os gritos que eu ouvia perturbavam-me o equilíbrio. Por que motivo escutava semelhantes vozes da mamãe, ali, onde não tinha razão de ser? Imenso mal-estar apoderou-se de mim. Todas as dores, que eu sentia, anteriormente, regressaram ao meu corpo. Comecei a chorar, convulsivamente.

Tia Eunice, todavia, compreendeu tudo e, dando mostras de saber o que se passava em meu íntimo, acariciou-me, dizendo: 'Não se assuste, meu filhinho. As vozes que ouve são realmente da mamãe, que ainda não pode compreender a vida. Você ainda se encontra ligado a ela por vigorosos laços de amor, cheio de apego desvairado e violento. Tenha calma e procure distrair-se'.

Quis obedecer à ordem afetuosa, mas não pude. Aqueles apelos que me pareciam chegar de muito longe e minhas ânsia de rever a mamãe querida eram demasiado fortes para que me sentisse libertado num minuto.

Oh! Mas era horrível! Os gritos maternos faziam-se mais altos e mais fortes, dentro de mim, à medida que eu cedia ao desejo de tudo recordar. E, com isso, voltaram-se todos os sofrimentos, um a um: a falta de ar.

Tive a idéia de que recomeçava também minha longa e dolorosa agonia. Tia Eunice exortou-me a ser forte e pensar na Bondade Divina, de modo a vencer as pesadas impressões do momento, mas debalde.

Após banhar-me a fronte em água fresca, apanhada em vaso próximo, acentuou, carinhosamente:

- Não tenha receio. Temos igualmente devorados médicos por aqui e já mandamos buscar um facultativo para atender-nos.

Aflito e desalentado, comecei a esperar".

FONTE:http://www.partidaechegada.com/2010/09/pequeno-morto-aquilo-seria-morrer.html

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